Suspeito de participar de chacina tem histórico criminal por delitos, como porte de arma de fogo, uso de drogas, furto e receptação
Carlos Henrique Alves da Silva (foto em destaque), 27 anos, é o quinto preso por participar da maior chacina registrada no Distrito Federal — que terminou com a morte de 10 pessoas da mesma família, cruelmente assassinadas.
O investigado acabou detido ao tentar fugir de policiais civis pelo telhado, no Condomínio Del Lago, no Itapoã. Conhecido como Galego, o suspeito foi autuado por associação criminosa, extorsão mediante sequestro, ocultação e destruição de cadáver, além de corrupção de menores.
Galego tem histórico na polícia por diversos delitos, como porte de arma de fogo, uso de drogas, furto e receptação de veículos. A ficha de Carlos Henrique é semelhante à dos demais presos, que tinham registros por crimes contra o patrimônio.
Na reta final das apurações, a polícia acredita que os cinco presos — Gideon Batista de Menezes, Horácio Carlos Ferreira Barbosa, Fabrício Silva Canhedo, Carlomam Santos Nogueira e Carlos Henrique Alves da Silva — participaram diretamente da barbárie. Além disso, um jovem de 17 anos foi levado para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA).
Os depoimentos de Horácio Carlos e Fabrício apontam Gideon Batista de Menezes como mentor do crime. O pescador foi preso na terça-feira (17/1) com queimaduras profundas nas mãos e no rosto.
Linha do tempo
A reportagem cruzou depoimentos de suspeitos de envolvimento no crime, bem como relatos de familiares e testemunhas à polícia, para explicar a cronologia dos fatos.
Confira:
25/12 — Segundo relatou o namorado de Gabriela à polícia, ele passou o Natal com os familiares da jovem e retornou para casa dois dias depois. Na ocasião, os documentos de Renata sido esquecidos com ele.
28/12 — Conforme depoimento dele à polícia, a jovem teria “sumido” em 28 de dezembro e voltado a responder o companheiro à noite, na mesma data, dizendo que precisou viajar de última hora, pois o “pai teria de fazer alguns exames”.
31/12 — Após dois dias seguidos sem responder, Gabriela teria mandado uma mensagem de áudio para o namorado, dizendo que voltaria para casa em 1º de janeiro. Desconfiado da história, o jovem checou um aplicativo de localização que dividia com a companheira e verificou que o celular dela estava em Planaltina. Ao sentir que algo estaria errado, ele mandou prints para Gabriela e passou a confrontá-la.
2/1 — Gabriela e a mãe, Renata, enviaram um áudio para o jovem, dizendo que um “processo relacionado a um trator do pai dela” — Marcos Antônio — teve “problemas” e que, por isso, a família precisou fugir. Desde então, não responderam mais.
Preocupado, o jovem entrou em contato com Thiago Gabriel, irmão de Gabriela, que teria respondido “não saber de nada”. Dias depois, Thiago Gabriel procurou o cunhado para pedir os documentos da mãe, Renata. Nesse momento, na tentativa de encaminhar a conversa dos dois para um terceiro, Thiago Gabriel reencaminhou as mensagens por engano para o próprio cunhado. Ao perceber o erro, o marido de Elizamar apagou a mensagem imediatamente.
11/1 — Após tentativas frustradas de falar com a namorada e de entregar os documentos da sogra, o jovem pediu para que Thiago Gabriel enviasse uma localização, para que pudesse deixar os pertences de Renata. Thiago Gabriel respondeu com a localização da casa onde mora, em Santa Maria. Contudo, outra situação atrapalhou o plano. Essa, segundo o depoente, foi a última vez em que conseguiu conversar com o cunhado.
Dias depois, tentou novamente contatar Thiago Gabriel, mas não teve retorno. Por isso, resolveu ir à de Gabriela, mas nada encontrou.
12/1 — Elizamar desaparece com os filhos, após dirigir até a casa dos sogros para buscar o marido Thiago Gabriel.
13/1 — Sem conseguir contatar a mãe, uma das filhas de Elizamar consegue conversar com Thiago Gabriel. O padrasto disse que “teve uma discussão com a esposa” e que a mãe teria ido embora sem ele. Ele teria acrescentado que estava “arrumando as coisas para viajar com o pai”, Marcos Antônio.
Horas depois, o carro de Elizamar, um Renault Clio preto, é encontrado carbonizado, com quatro corpos dentro, no Km 69 da rodovia GO-436, em Luziânia (GO).
Núbia, irmã de Renata, disse que recebeu um áudio no grupo da família, por volta das 21h, com uma mensagem de Renata dizendo que estava em uma vaquejada e que voltaria para casa no dia seguinte.
14/1 — Filho de Elizamar registra o desaparecimento da mãe e dos três irmãos mais novos: os gêmeos Rafael e Rafaela da Silva, 6 anos, e Gabriel da Silva, 7.
Momentos depois, um Fiat Siena branco, em nome de Marcos Antônio, é encontrado carbonizado, com duas pessoas dentro, na BR-251, na altura de Unaí (MG).
15/1 — Núbia registra boletim de ocorrência sobre o desaparecimento da irmã, Renata; do cunhado, Marcos Antônio; e dos filhos do casal, Gabriela e Thiago.
A inteligência da Polícia Civil de três unidades da Federação cruza dados de boletins de desaparecimentos registrados com as placas dos carros carbonizados.
16/1 — A polícia registra boletim de ocorrência sobre o desaparecimento de Cláudia Regina Marques de Oliveira e Ana Beatriz Marques de Oliveira.
17/1 — Polícia prende dois suspeitos: Gideon Batista de Menezes e Horácio Carlos Ferreira Barbosa.
Os suspeitos apontam Marcos Antônio e Thiago Gabriel como mandantes dos assassinatos. Os detidos afirmaram que as mortes teriam sido motivadas por causa de R$ 500 mil.
A polícia prende Fabrício Silva Canhedo, terceiro suspeito de envolvimento no crime.
18/1 — Polícia verifica que corpos encontrados em carro carbonizado em Unaí (MG) eram de mulheres.
Corpo é encontrado em cativeiro onde parte de integrantes da família eram mantidos em cárcere.
A Polícia Civil do DF descarta envolvimento de pai e filho na chacina da família.
19/1 — Corpos encontrados em carro carbonizado em Luziânia (GO) são de Elizamar e de três filhos dela, segundo a PCDF.
Corpo encontrado em cativeiro é de Marcos Antônio, sogro de Elizamar.
20/1 — Perícia encontra sangue em sacola e respingos no chão de cativeiro.
22/1 — Polícia identifica e busca quarto suspeito por participação no crime: Carlomam dos Santos Nogueira. Ele é integrante da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) e foi alvo de operação da PCDF enquanto ficou preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em 2018.
23/1 — Um bilhete encontrado dentro do cativeiro teria atraído Elizamar e a família para a morte.
No mesmo dia, a polícia apreende mais um carro ligado a suspeitos da chacina da família.
24/1 — Vídeo obtido pela PCDF mostra Carlomam Santos Nogueira em celebração com Fabrício Silva Canhedo. Ambos se conheciam antes do crime.
Três corpos são encontrados em cisterna de casa abandonada, no Núcleo Rural Santos Dumont, em Planaltina (DF). O endereço fica a cerca de 5km do cativeiro onde vítimas da chacina foram mantidas reféns.
A PCDF trabalha com a tese de que integrantes da mesma família teriam sido vítimas de extorsão.
No mesmo dia, a equipe de necropapiloscopia da corporação constata que dois dos três corpos encontrados em cisterna eram de Thiago Gabriel e Cláudia Regina.
A perícia também confirma que os corpos achados no carro carbonizado em Unaí (MG) são de Renata e Gabriela.
Horas mais tarde, um adolescente de 17 anos é encaminhado à 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) por suspeita de envolvimento na chacina. Em depoimento informal a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), o jovem teria dito que recebeu R$ 2 mil e, depois, ganharia mais R$ 3 mil de Horácio Barbosa para ajudar no plano criminoso.
25/1 — A Polícia Civil do DF procura mais um suspeito de participar da chacina.
Horas depois, a corporação confirma que o terceiro corpo encontrado na cisterna é de Ana Beatriz.
À tarde, Carlomam se entrega à 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião).
26/1 — A PCDF prende um quinto suspeito de envolvimento no crime: Carlos Henrique Alves da Silva, 27 anos, conhecido como Galego.
Fonte: Metrópoles